sexta-feira, 6 de maio de 2011

E O DIAS DAS MAES???

Desde pequena, quando este dia se aproximava eu já sabia que ia chorar as escondidas, bem as escondidas mesmo, um choro sentido e sozinho que se manifestava bem dentro dos meus pulmões e, o máximo que acontecia era molhar o travesseiro e adormecer ali, com o rosto úmido. Meu maior temor era imaginar que minha tia pudesse me ouvir.

Eu não tinha ninguém para conversar, para me abrir, pra mim essa data era uma tortura e hoje ao me lembrar, sinto que se eu tivesse sentindo a mesma dor daqueles anos...Minha sorte era quando meu cunhado estava lá, dormindo em minha casa, pois ele sentia a minha tristeza e segurava minha mão até eu adormecer, ele nunca me perguntou porque eu chorava ou estava calada e triste, mas me acalmava como ninguém e minha irmã sempre deitada ao lado dele, me dava um beijo de boa noite, fazia carinho em meus cabelos e da forma dela, me confortava como uma mãe deve fazer ao seu filho.

Me lembro como se fosse hoje que tudo que eu queria naquela época era ter uma família como todos os meus amigos da escola. Mas também lembro que ouvir coisas a respeito de minha mãe me faziam desejar não ser nunca como ela. Porém, desejava tanto te-la por perto, tanto mesmo. Desejava poder entregar o presente do dia das mães pra ela e não para a minha avó, ou minha tia ou ter que explicar a todo mundo o porque eu não tinha mãe e por isso eu escondia de todos a minha verdadeira família, porque eu tinha vergonha de mim e da minha história. Era muito cansativo ter que explicar pra todo mundo o porque de tudo, então eu me mantinha fechada, sempre alegre e amiga, mas fechada.

Aquilo tudo era uma confusão pra minha cabeça e, hoje, depois de muito ter estudado e lido coisas sobre psicologia infantil eu consigo um pouco entender o que acontecia na minha cabecinha de criança e venho tentado me ajudar a partir do que passei entender, embora eu ache que eu só tenha colocado para dormir alguns, senão todos os monstrinhos que assombraram a minha infância, que durante toda a minha vida de adolescencia e juventude ficaram indo e vindo `a tona.

Daí eu me pergunto, meu Deus, como assim??? Como um dia das mães pode deixar a gente tão atormentado? E não somente quando eu era criança, mas ainda hoje eu fico assim, atormentada. Tudo bem que é uma data comercial, que o pai do João Dória Junior trouxe para o Brasil, mas o problema é o que essa data provoca de sentimento nos indivíduos. Quanta criança no mundo não tem uma mãe para presentear nem que seja com um desenho, uma florzinha roubada, ou ao menos com um beijinho de bom dia?? Quantas crianças, que vão crescer com um sentimento de abandono, rejeição e com sequelas pra vida inteira? Sorte de quem teve a grande sorte de ter tido uma avó, tias, irmãs mais velhas, mães de amigas, amigas maes... Essas mulheres a quem devo o fato de ter tido presenças femininas tão importantes e educativas, salvadoras e confortantes. Mulheres que de uma forma ou de outra reuniram tudo o que uma mãe poderia ter me dado. Mas ainda assim, não minhas mães... Como seria lindo se minha mãe soubesse quando eu mestruei, quando eu li pela primeira vez, quando tantas coisas...

Ao contrário disto, me uni a minha mãe, conheci minha mãe aos 27 anos de idade, a partir de então que passei realmente a saber quem era ela, e a perceber, conforme o tempo foi passando algumas semelhanças com ela. Porém foi preciso uma morte pra isso ter acontecido. E hoje, acredito que meu irmão possa ter partido pra que minha mãe pudesse finalmente ter a mim e minha irmã por perto. Mas eu juro que não queria que fosse assim, não queria que ele tivesse partido pra que eu pudesse conhecê-la e notar nossas semelhanças.

Hoje vejo que sou parecida com ela em uma série de coisas, a facilidade pra dança, a gargalhada forte e chamativa, a comunicação fácil com as pessoas, o gênio forte ( característica das mulheres da família ), o cabelo, o formato das mãos, os olhos.. Ah e as mãos?? Eu não me esqueço quando percebi que tenho os dedos e o formato das mão iguaizinhos ao de minha mãe. Como foi boa a sensação. Como é bom olhá-la e ver como sou parecida com alguém. Antes eu não via isso e hoje eu vejo. Mas e daí, ok, isso é ótimo, mas não apaga a falta que isso me fez la atrás e eu preciso aprender a lidar com isso. As vezes acho que guardo uma mágoa gigante por conta disso, assim como eu sinto com relação ao meu pai. Mas agora estamos falando de mãe.

Não culpo minha mãe, mas isso não anula o fato de não ter tido uma em tempo real... Toda mãe, antes de ser mãe, é um indivíduo, é mulher que foi criança, que também teve uma mãe, que teve um determinado tipo de criação que foi determinante para se tornar um adulto com determinados sentimentos, emoções que o levaram a tomar atitudes para a sua vida e isso eu compreendo, entendo, aceito, porém não elimina em mim a dor que muitas vezes ainda sinto.

Ser mãe não deve ser nada fácil, por isso sinto medo de me tornar mãe, não quero errar como a minha, não quero ser como muitas mães que eu não concordo com a conduta, quero poder ser para o meu filhos ou meus filhos, tudo aquilo que eu tive que reunir com todas as "mães" que eu fantasiei e adotei como minhas. Só posso agradecer a Deus por ter colocado tantas grandes mulheres em minha vida para me ajudarem a me tornar uma mulher.

FELIZ DIA DAS MAES

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